Encontrei essa mensagem pelas ruas de Berlim. Não é ótima?
Por favor, não chore.
Crises de
personalidade não param... ou não acabam?
Uma crise até que faz bem,às vezes.Pra sacudir e mudar algo. O escritor, por exemplo, sofre de algumas crises, tais:
Crise de ânimo –
Parte um A primeira crise de ânimo acontece com as releituras infinitas dos
capítulos mais recentes. O escritor, que antes pensava escrever a coisa mais
criativa e original do mundo, começa a achar tudo uma por-ca-ria.
Crise de insônia – O escritor escreve em horários estranhos,
sonha com os personagens, com eles conversa no caminho ao trabalho... Eu não
tive uma crise forte de insônia, mas confesso que já não dormia bem como antes.
Tentei escrever de madrugada ou de manhã bem cedinho, mas não funcionou. O meu
horário de escrita é a noite (até meia noite porque depois você sabe que
aparece fantasma na sala vazia, né? :P).
Crise de solidão – Ih... A fase da solidão chega pela metade do
livro quando você já está completamente imerso no universo da estória. Eu não
deixei de sair pra me divertir, claro.
E quando o fazia, tinha de me esforçar pra pensar em outra coisa que não fosse a
personagem X. Além disso, sentia-me culpada por usar o único tempo livre (fim
de semana) pra escrever. Os fins de semana viraram, então, um tormento, eu não
queria voltar à realidade da Segunda-Feira, daí que:
Crise de ansiedade – Na metade do livro, eu ‘desparafusei’.
Queria usar todo o tempo livre pra escrever. Comecei a fazer terapia
semanalmente... Foi uma fase bem estranha, sombria. ‘Ninguém me entende!’ Procurei
ajuda inspirando-me em outros escritores, em diretores, em filmes... Eu queria um
consolo.
Crise de inspiração – Nem me fale! Que me-do! Acho que todo mundo
que trabalha com arte, música, etc, sente a presença desse fantasma de pés
frios, vez em quando. Eu enchalhei no capítulo 9 do livro, por exemplo. Não
teve jeito. E durou um mês. Não havia maneira de terminá-lo ou de fazê-lo um
pouquinho melhor. Um mês de sofrimento. Rezei, chorei, fiz promessa. Assisti
filmes, fui à exposições de arte, isso tudo pra me reanimar... Até que um dia,
saiu o que tinha que sair e nem muito contente fiquei.
Crise de ânimo – Parte dois Passado o primeiro sufoco de inspiração,
renasci com novo ânimo. Escrevi o capítulo 10, que pra mim significou o alcance
de certa maturidade da escrita, e aquilo me encheu de força bruta. ‘Não
desisto, não desisto’, repetia, quase me estapeando a cara. O ‘nascimento’ de um capítulo vibrante e
criativo enche o coração de alegria. Mas sabe que a tal, dura pouco...
Crise de gases nervosos – Só a bailarina que não tem! Mas escritor tem
sim! Crise essa decorrente da ansiedade que me deixa sem quase respirar e
consequentemente enche-me de gases (‘toma coca-cola pra arrotar’, diziam, mas
quem disse que?.
Crise conjugal– O seu parceiro(a)tem que realmente amar
você. Quer uma prova de amor? Escreva
um livro. Sem amor, não tem
literatura que resista. Não vou nem entrar em detalhes. Uma coisa digo: pobre
do meu marido que teve de me aturar durante aquela época (e ainda me atura).
Crise de inveja de outros escritores
moderninhos que estão dando o que falar – Enquanto você escreve, beleza, você já se sente parte do
universo dos escritores. Inocência. Passei meses no meu mundinho, escrevendo um
capítulo atrás do outro, lendo, relendo cada frase; Existia nesse mundo algum outro escritor além?
Sim, Clarice, Kafka, Lygia Fagundes... Todos distantes. Mas um dia você sai da
casinha e se depara com notícias de
escritores novos (e sortudos, claro) publicando aqui ou acolá com editoras; pessoas
normais como você, mas com os blogs
mais acessados do planeta... Então, você se sente um nada. A crise de inveja aperta
e você tem vontade de morder quem estiver por perto; Vai à terapia, e a
terapeuta tenta convencê-lo “já eres um escritor” e recomenda uma simples chicotada
no inconsciente pra que consiga terminar o troço do livro de uma vez. Sentir
invejinha é normal. Mas não deixe que ela atrapalhe sua escrita, nem o faça
desistir dela.
Crise de ânimo – Parte três Crise seguida de várias taças de vinho. Você
bebe, escreve, bebe. Ri sozinho, suja o teclado do laptop, chora. Ah, é um
ânimo ao inverso. Você já não tem tanto ânimo assim, mas falta pouco, né? Você
olha pra tela do computador com olheiras profundas... ‘fal-ga po-co essa porra’.
O processo que levou quase dois anos... falta pouco. Alguns capítulos mais e
depois a edição e depois hajknjwebdjscs@#$*... Falta pouco...
Crise de desespero – Com o livro pronto e editado (recomendo a
ajuda de um editor ou de um escritor amigo ou da família) você abre a janela e
é como se sentisse o vento forte no rosto pela primeira vez. Dá uma sensação de
liberdade. Mas dura pouco, também. Logo você entrará no mundo obscuro das
editoras que dizem não. Bom, ainda estou nesse processo... Então, a crise de
desespero bate: você vê que os livros mais vendidos ainda não mudaram de tom; pouquíssimos, pouquíssimos são os
que conseguem sobreviver de literatura; o país não incentiva leitura, não
investe em educação; você previsa voltar a trabalhar com qualquer coisa pra se
sustentar... Desespero! Que me levou
a criar este blog e a pensar cada vez mais em tornar-me uma self-publised escritora (publicando por
conta própria). Agora, já sei, a próxima crise será A crise digital. Me aguardem!
E você, tem crise de
que?
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