Um
post estranho
Eu sofro de “blogueios” criativos. Não é a primeira
vez que tento fazer um blog e paro no meio do caminho. Meu problema vai além de
um simples bloqueio, gosto de escrever sem obrigação (amadora séria). A coisa
perde o ritmo, o “assunto” e não alcança nem a média de 5 leitores por post. Mas
aqui estou eu tentando manter a promessa diária de escrever sobre a escrita,
sobre a vida, sobre as duas coisas juntas...
Hum... Não me sairá agora outra coisa além de um
texto fraco das pernas. Estou desanimada, confesso. E sem saber por que. É o
mal estar da internet e das redes sociais? Tanta informação há de fazer algum mal. As opiniões
desnecessárias de usuários anônimos me deixam com náuseas. Eu me irrito com
certos comentários na internet, sim! A minha impressão é que algumas pessoas lêem
as informações pela metade, de uma forma ansiosa... e pronto, jogam
comentários precipitados. Com a intenção de criar polêmica ou de espalhar a
peste, o mal da ignorância. E o debate se desenrola na rede, sem nenhuma
conclusão sensata. É uma falsa troca de comunicação...
Como não me indignar com as pessoas que postaram comentários
(em jornais online!) deprimentes ou piadinhas imbecis sobre a tragédia na boate
Kiss, no Rio Grande do Sul? Demonstrem o mínimo de respeito pelos familiares,
por favor!, tenho vontade de gritar, mas me calo. O “bom” da internet é que um
pode jogar qualquer lixo de opinião e não ouvir uma resposta inteligente em
retorno.
Abro um vídeo com um filme no youtube e os comentários
vão além do conteúdo. Leio (com mais náusea) os comentários ofensivos entre os usuários (xingam a
mãe, o vizinho, o cachorro...), e me pergunto, as pessoas perderam a noção
ou sempre foram assim?. Ou a internet apenas abriu o espaço para os palhaços anônimos
e os desesperados pelos famosos 15 minutos de fama?
Outra prova do meu cansaço - este texto está
cansadíssimo. Recebi horas atrás um suposto email da minha ex-analista contando
que havia sido roubada em Chipre (ilha situada no Mar Mediterrâneo), perdido
passaporte, e precisava de ajuda. Respondi oferecendo qualquer apoio. Em poucos
segundos, recebi outro email pedindo que depositasse mais de 2000 reais na
conta de uma terceira pessoa. Identifiquei, em seguida,(um pouco tarde,
talvez. Mas eram sete horas da manhã e não havia tomado meu café forte!) que
alguém estava usando os dados da minha ex-analista e tentando aplicar o velho
golpe...
Eu sei que este post não tem coesão e tampouco
sentido. A vida também não tem, às vezes! Tragédias, corrupção, uso de má fé,
crises econômicas... têm sentido? Enfim, alguma esperança ainda resta pois aqui estou
escrevendo e tentando apresentar-me, ou apressar-me.
Desconfio que sofro de uma crise do “não lugar”. Sim,
me falta o gosto de pertencer a um lugar. Estar num lugar não me basta. Os pés
tocam o chão mas não cavam a areia.
Estou há tanto tempo fora dos trópicos que
me sinto como Clarice Lispector no tempo em que ela morou na Europa e nos Estados
Unidos: “Está me acontecendo uma coisa tão esquisita, com o tempo passando, me
parece que não moro em nenhum lugar, e que nenhum lugar me quer”, desabafou ela numa carta a Fernando Sabino.
O estrangeiro carrega essa “falta” no bolso da alma.
Mas, no momento, eu me recolho com algum desconforto. Dores maiores são
dissipadas em territórios brasileiros.
Os que compartilham dessa mesma estranheza, único
motivo pelo qual escrevo,talvez me entendam. Sim, é um sintoma de
estranheza que surge de repente. De estranhar as pessoas ao redor, até mesmo as
mais próximas, a vida e a sociedade, o país onde nascemos, o país onde vivemos...
hoje me parece tudo tão surreal! Estranho,
como se não fizesse parte desse mundo. Não me sinto nem em carne, talvez viva
apenas por suspirar a cada meio minuto.
Se alguém, hoje, me perguntasse de onde
eu sou?,
quem sou eu?,
diria qualquer coisa inspirada no diálogo entre um homem, personagem X, que
acaba de conhecer uma mullher, personagem Y, do filme “A música mais triste do
mundo”:
--- Você é americana?, pergunta o homem.
--- Não sou americana. Sou ninfomaníaca, responde
ela tranquilamente.
Por não pertencer a nenhum lugar, hoje eu sou qualquer coisa.
** E você, de que lugar estranho...?